terça-feira, 1 de setembro de 2009

BAIDA - A MULHER BOMBA


Em Baquba, o detetive de polícia iraquiano folheava, em vão, um arquivo sobre sua escrivaninha: a luz diurna estava fraca demais para lê-lo e há muito tempo já não tinha mais eletricidade. Ele parecia querer dizer algo. Foi quando uma bomba explodiu a algumas quadras dali, fazendo seu escritório tremer. Os rádios sobre sua escrivaninha crepitaram. Ele fez um sinal com a cabeça para seus colegas, que correram para o corredor e se juntaram a policiais que já se apressavam para alcançar o local da explosão. Ao levantar-se para segui-los, o detetive tentou me tranquilizar.
“Você vai gostar de Baida”, disse o major Hosham al-Tamimi – diretor do Escritório Nacional de Investigação e Informação do Comando de Polícia de Diyala – acenando a cabeça em sinal de aquiescência diante do arquivo a sua frente. Era curioso dizer aquilo sobre alguém que quer matar pessoas como ele ou como eu. Ele completou, com um ar um pouco pensativo: “Eu gosto de Baida. Ela é...”, pausou ele, prosseguindo em seguida: “Honesta”.Baida faz parte da lista de 16 suspeitas de serem mulheres-bomba, ou suas cúmplices, capturadas pela polícia na Província de Diyala desde o início de 2008: quase o mesmo número de mulheres que já promoveram ataques suicidas a bomba. Quando conheci Baida, em fevereiro, ela já havia passado mais de dois meses na prisão. Ela dividia a cela com outra suspeita, Ranya, que aos 15 anos foi pega a caminho de uma explosão – ela, inclusive, já estava usando o colete suicida. A mãe de Ranya também estava na prisão por suspeitas de ligações com os envolvidos na organização do suicídio de Ranya.
Aparentemente, nenhum lugar teve mais ataques suicidas a bomba promovidos por mulheres em tão pouco tempo do que o Iraque, onde já ocorreram cerca de 60 tentativas ou ataques deste tipo, a maioria deles em 2007 e 2008, segundo estatísticas coletadas pelo exército americano e pela polícia iraquiana (apesar dos ataques continuarem, os números, tanto para homens como para mulheres, reduziram neste ano).

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