segunda-feira, 11 de agosto de 2008

PESQUISADORA ANALISA GRAFITES DE BANHEIROS


Analisar duas fases do desenvolvimento de jovens através de inscrições em banheiros foi a forma escolhida por Renata Plaza Teixeira para realizar sua dissertação de mestrado pelo Instituto de Psicologia da USP. Após coletar dados freqüentando os banheiros de cursinhos e universidades, ela constatou que mudanças de comportamento podem ser estabelecidas quando se estudam os grafitos. Além de copiá-los literalmente, Renata registrou-os em fotografias e vídeos, entrando em banheiros femininos e, quando obtinha autorizações, em masculinos. Em alguns casos, seu marido realizava a tarefa. Após o levantamento, a pesquisadora classificou 1.349 grafitos em categorias de conteúdo (esporte, romantismo, política e presença, por exemplo) verificando as que mais variavam de acordo com o gênero de quem escrevia. "No cursinho os meninos escrevem muito sobre esporte, seus times preferidos, e mais sobre política do que as meninas. Elas são mais românticas e também dominam a categoria presença, que consiste em apenas registrar o nome," diz. No cursinho quatro categorias permitiram a diferenciação de gêneros, o que demonstra para a pesquisadora a ne-cessidade adolescente de afirmar essa diferença. Na universidade apenas duas categorias, romantismo e agressividade, foram essenciais para a análise das inscrições, o que significa, de acordo com Renata, que homens e mulheres tornam-se menos diferentes, ou pelo menos compartilham mais de interesses comuns. Ambos escrevem muito sobre sexo, mas a freqüência com que o fazem é aproximadamente a mesma, apesar das disparidades no enfoque. Comparando as inscrições masculinas no meio universitário com as do cursinho, a pesquisadora percebeu um sinal de amadurecimento. Porém, são mais agressivas por conter, com freqüência, termos ligados à homossexualidade para insultar o próximo, insultando, por vezes, o próprio homossexual. A abordagem das mulheres é mais romântica e menos violenta, distinguindo-se por suas referências à promiscuidade sexual feminina, conduta considerada inaceitável. Os estereótipos e preconceitos existentes nos grafitos refletem a influência de regras sociais: "O preconceito contra o homossexual, o negro e o judeu, por exemplo, revela o peso que alguns comportamentos padronizados têm sobre a pessoa que escreve no banheiro", diz Renata, que analisa a regularidade desse tipo de inscrição também como projeção de fantasias inconscientes. "Há inclusive um psicanalista norte-americano, Lomas, que interpreta os grafitos como forma de acesso ao inconsciente, semelhante aos sonhos e atos falhos". Ela diz que a proteção das quatro paredes e a garantia de anonimato são alguns fatores que influenciam a liberação desses preconceitos.

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